O nome daquilo era MEDO...
Aquele mesmo que sentiu quando caiu do balanço no parquinho
pela primeira vez quando ainda criança.
Todo domingo de sol acordava ansioso para ir ao parque,
encontrar os amigos, alçar vôos cada vez maiores no seu balanço preferido. Cada
nova vez no brinquedo queria extrapolar todos os limites e ir cada vez mais
alto.
Até que um dia ele caiu do balanço!
Até que num lindo e ensolarado domingo no parque, as mãos
ficaram frágeis demais e ele caiu do balanço.
E a partir desse trágico dia, tudo em sua vida girava em
torno de um letreiro luminoso gigantesco que piscava intermitentemente: “E
SE…”.
Era tanta dúvida, tantas vírgulas, reticências e
interrogações que era impedido de dar dois passos adiante sem que ficasse
estagnado dois passos atrás.
E se der errado? E se acontecer de novo? E se doer, se
ferir, se machucar? E se for em vão e se não for?
Eram muitos “se”, eram muitas possibilidades ou
impossibilidades numa frase só.
Era uma gramática inteira de pontuações empregadas da
maneira errada num romance que mais parecia um conto breve.
A gente acorda, dá um beijo no namorado(a), toma banho, faz
o café, trabalha, dança, volta pra casa, prepara o jantar, beija o namorado(a),
assistem TV até pegarem no sono, dorme e no outro dia começa tudo outra vez.
Mas a verdade é que ninguém sabe como vai ser o dia de
amanhã!
De forma que, o único “e se” perdoável é aquele que te permite viver intensamente o agora, o HOJE!
De forma que, o único “e se” perdoável é aquele que te permite viver intensamente o agora, o HOJE!
E se não houver o dia de amanhã?
Nunca mais subiu num balanço na vida.
A adrenalina gerada pela simples entrada no parque era tão
grande, que só a aproximação do brinquedo o fazia relembrar da queda.
E se afastava. Sabia que podia ser seguro novamente, mas o
temor da possibilidade criava uma barreira enorme entre o menino e o balanço.
Perdeu risos, o ar puro de quando chegava ao ápice de seu
vôo, perdeu os cabelos soltos ao vento, o sol iluminando a face quando chegava
ao ponto mais baixo da trajetória, perdeu requintes de felicidade que não
voltariam mais.
A verdade é que tem certas coisas na vida que a gente só
descobre o rumo delas, entrando no caminho, ou seja, tentando.
A gente deixa de tomar atitudes, transfere comportamentos,
arruma desculpas pra problemas que seriam facilmente resolvidos com uma palavra
que abre portas: “sim”.
Sim, eu me permito tentar.
A possibilidade de cair do balanço sempre existe, mas não me
parece justo desistir de um desejo, de um sonho, por puro medo.
Tirar o pé do chão às vezes dá um certo receio, uma
insegurança acerca do tamanho da queda se o pé não repisar na hora certa.
Mas até pra andar e ir adiante, a gente precisa sair um
pouco do chão seguro.
É preciso coragem.
Cair não fere ninguém.
Pode doer, deixar um ou dois arranhões, mas com o tempo isso
passa, o que fere de verdade é a cicatriz que não te deixa esquecer do que
passou.
Já dizia uma sábia amiga minha: O “não” você já tem, busque
o “sim”.
Porque a gente não precisa que todos os passeios no balanço
da vida dêem certo, a gente precisa que funcione só uma vez, uma “vezinha” só,
e já vai ser válido, já vai ser eterno...
Todo dia é dia de recomeçar, de dar uma chance ao sim.
“SE” vai dar errado, não dá pra prever.
Porque se der errado você pode amaldiçoar o mundo inteiro,
mais vai dormir com a cabeça tranqüila no travesseiro que você fez o que estava
ao seu alcance fazer.
Em compensação, se funcionar, o Universo garante nada menos
do que a felicidade, cabelos soltos novamente ao vento e uma infinidade de pontuações
gramaticais que não refletem em nada o peso de uma vírgula ou uma reticência.
O menino temia o balanço. Ficava ali sentado perante seu
brinquedo favorito sem conseguir brincar.
Enquanto todos a sua volta enfrentavam seus medos e receios.
Enquanto todos se divertiam no ali e no agora, sem pensar no amanhã, ele só
conseguia observar, lamentar e calar. Sozinho.
Um dia ele vai envelhecer, assim como todos nós, e tudo que
vai restar a ele são os “se”, os mesmos de quando era jovem.
A diferença é que quando a maturidade ensinar a ele que
tempo não se compra, não se vende, mas sim se divide, o parque, os sorrisos, o
vento no rosto, o balanço, o tão almejado balanço pode não existir mais.
Uma oportunidade perdida é um segundo que poderia ter feito
a diferença pro resto da sua vida.
“E se” esse minuto voltar, não vai ter a mesma força, o
mesmo ímpeto, o mesmo querer.
Por isso antes de desistir da brincadeira, de abandonar o
balanço, o parque, as flores… Não se perca. Não perca o minuto, não perca o balanço.
“E se” só dessa vez, for diferente?
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